dimanche 30 octobre 2011

O LUCRO OU AS PESSOAS




Na América Latina, Washington pretendia implementar a Doutrina Monroe, porém de um modo muito especial, uma vez mais. O presidente Wilson, famoso por seu idealismo e seus elevados princípios morais, admitiu secretamente que, “ao defender a Doutrina Monroe, os Estados Unidos levam em conta os seus próprios interesses”. Os interesses dos povos latino-americanos são meramente “incidentais” e não um problema nosso. Ele reconheceu que “pode parecer que nos baseamos em puro egoísmo”, mas afirmou que “a doutrina não tem motivos mais elevados ou generosos”. Os Estados Unidos lutaram para desalojar a Inglaterra e a França, seus rivais tradicionais, e estabelecer uma aliança regional sob seu controle à parte do sistema mundial, onde tais arranjos não eram admissíveis.

As “funções” da América Latina foram esclarecidas numa conferência hemisférica, em fevereiro de 1945, na qual Washington propôs uma “Carta Econômica das Américas” que eliminaria o nacionalismo econômico “sob todas as suas formas”. Os planejadores de Washington sabiam que não seria fácil impor um tal princípio. Documentos do Departamento de Estado advertiram que os latino-americanos preferem “políticas destinadas a promover uma melhor distribuição da riqueza e a elevar o nível de vida das massas” e estão “convencidos de que o maior beneficiário do desenvolvimento dos recursos de um país deve ser o povo do próprio país”. Tais idéias são inaceitáveis: os “maiores beneficiários” dos recursos de um país são os investidores norteamericanos, e a América Latina deve cumprir a sua função de serviço sem preocupações irracionais com o bem-estar geral ou com um “desenvolvimento industrial excessivo” que possa prejudicar os interesses dos Estados Unidos. A posição dos Estados Unidos prevaleceu nos anos seguintes, ainda que com uma série de problemas que foram enfrentados com meios que não preciso mencionar.

Quando a Europa e o Japão se recuperaram da devastação causada pela guerra, a ordem mundial assumiu um padrão tripolar. Os Estados Unidos mantiveram a sua posição dominante, apesar dos novos desafios que surgiam, entre eles a concorrência européia e leste asiática na América do Sul. As mudanças mais importantes aconteceram há vinte e cinco anos, quando o governo Nixon desmantelou o sistema econômico global do pós-guerra, no qual os Estados Unidos eram, na verdade, o banqueiro do mundo, papel que não podiam mais sustentar.

NOAM CHOMSKY - Profit over People

dimanche 23 octobre 2011

Arcebispo Agobard


Tem um caso mim que é realmente muito interessante, é o do arcebispo Agobard. No século IX, em Lyon, havia um religiosos que se chamava Agobard, ele era um homem absolutamente notável. Escreveu uma série de 22 livros - em latin - sobre superstição. Ele era um religioso extremamente cético e racionalista (na medida que um religiosos possa ser); enfim, ele escrevia livros contra superstição. E o seu argumento era: se as bruxas pudessem fazer tempestades, etc, isso retiraria algo do poder absoluto de Deus. Pois Deus seria o unico a controlar os fenômenos atmosféricos e a fazer tempestades, etc, mas as bruxas não poderiam.

E num dos seus livros De Grandine Tonitruis (Do granizo e o trovão) - precisamente sobre os fenômenos atmosféricos - ele narra que um dia algumas pessoas de Lyon conduziram-lhe 4 estranhos indivíduos - 3 homens e uma mulher - acorrentados, que haviam descido de uma estranha embarcação aérea. E as pessoas desta região constantemente viam estranhas embarcações que voavam e que achavam vir da Magonie. A Magonie seria um país mágico que ficava acima as nuvens no imaginário medieval dessa região. Tema do meu livro " Visto para o Magonie" - onde eu agrupo este tipo de testemunho muito comum na idade media, atraves dos arquivos de Igreja.

Agobard fez então um longo discurso dizendo-lhes que, como estas embarcações das nuvens não podiam existir eles deveria liberar essas pessoas estranhas, que falavam esse língua estranha e que se vestiam de forma estranha. Pois a população queria lançar eles vivos e acorrentados no rio Rhône. Mas o que seriam estas embarcações nas nuvens? As pessoas achavam que eles era feiticeiros – e curiosamente essas pessoas tinham como defensor um arcebispo. Bom, casos como esse assemelham-se a conto de fadas. Mas sao fatos históricos que encontramos nos arquivos da igreja. E mesmo nas entrelinhas dos contos de fadas, do folclore, do folclore céltico, por exemplo, encontramos esses estranhos fenômenos…

E claro que havia também a censura da Igreja num sentido mais amplo; o camponês que se encontrava na frente de uma espécie de luz lenticular, com pequenos seres que o levavam para dançar e que perdia 1 ou 2 horas de seu dia sem saber como, etc. não podia contar isso ao padre de sua comunidade, porque ele poderia ser acusado de ter visto o diabo, etc, e aquilo podia terminar muito mal para ele.

Jacques F. Vallée, Ph.D.


samedi 22 octobre 2011

introdução



Se Deus não existe, tudo é permitido”, diz um personagem de Dostoiévski. Claro que não, já que eu não me permito tudo! A moral é autônoma, mostra Kant, ou não é moral. Quem só se impedisse de matar por medo de uma sanção divina teria um comportamento sem valor moral: seria apenas prudência, medo do policial divino, egoísmo. Quanto a quem só faz o bem para a sua salvação, não faria o bem (já que agiria por interesse, e não por dever ou por amor) e não seria salvo. É o ápice de Kant, da Luzes e da humanidade: não é porque Deus me ordena alguma coisa que está certo (porque nesse caso poderia ter sido certo, para Abraão, matar seu filho); é porque uma ação é boa que é possível acreditar que ela é ordenada por Deus. Não é mais a religião que funda a moral; é a moral que funda a religião. É onde começa a modernidade. Ter uma religião, precisa a Crítica da razão pura, é “reconhecer todos os deveres como mandamentos divinos”. Para os que não têm ou deixaram de ter fé, já não há mandamentos, ou antes, os mandamentos já não são divinos; restam os deveres, que são os mandamentos que impomos a nós mesmos.

André Comte-Sponville

O espírito do ateísmo: introdução a uma espiritualidade sem Deus

dimanche 9 octobre 2011

O Desenvolvimento do Ego



P: Pode explicar algo mais sobre o que chamou de desmaio?

R: Não é nada particularmente profundo. Acontece apenas que, no nível do Primeiro Skandha, trabalhamos com muito afinco tentando solidificar o espaço. Trabalhamos tanto e com tanta pressa que a inteligência, de repente, sofre um colapso. Poderíamos dizer que isto é uma espécie de satori inverso, uma experiência inversa de iluminação, a experiência da ignorância. Entramos de repente num transe, em conseqüência de havermos trabalhado com tanto empenho. Toda essa solidez é alguma coisa que realmente realizamos, uma obra-prima. E, tendo-a realizado completamente, súbito nos vemos engolfados por ela. É uma meditação desse gênero, uma espécie de samadhi ao contrário.

P: Crê que as pessoas devem ter consciência da morte para estarem realmente vivas?

R: Não creio que tenhamos de estar particularmente conscientes da morte, no sentido de analisá-la, mas temos de ver o que somos. Tendemos, não raro, a procurar o lado positivo, a beleza da espiritualidade, e a ignorar-nos como somos. Esse é o maior perigo. Se estivermos empenhados na análise de nós mesmos, nossa prática espiritual estará tentando encontrar alguma conclusão final, uma derradeira auto-ilusão. A inteligência do ego é muito talentosa, ela
pode distorcer qualquer coisa. Se nos apegarmos às idéias de espiritualidade, ou de auto-analise, ou de transcendência do ego, este se apossa imediatamente delas e as traduz em auto-ilusão.

P: Quando o macaco começa a desvairar, é conseqüência de alguma coisa que conheceu antes? De onde provém a alucinação?

R: Ê uma espécie de instinto, um instinto secundário, o instinto simiesco que todos temos. Se houver dor, sonharemos com o prazer, para contrastar. Há o impulso inato de defender-nos, de estabelecermos o nosso território.

P: Providos apenas com o nível de consciência que temos agora, estaremos destinados a lutar e pelejar desesperançadamente nesse nível, a menos que possamos voltar ao espaço que o sr. descreveu?

R: É claro que teremos de lutar o tempo todo, não há fim para isso. Poderíamos continuar falando, para todo o sempre, sobre a sucessão de lutas que teremos de suportar. Não existe nenhuma outra resposta, a não ser, como você disse, tentar encontrar novamente o espaço primordial. Se assim não for, estaremos presos na atitude psicológica deste em oposição àquele, o que é um obstáculo. Estamos sempre combatendo um adversário. Não há um só momento que
deixemos de lutar. O problema é a dualidade, a guerra em termos de mim e meu adversário.
A prática da meditação é uma forma completamente diferente de trabalhar. Temos de modificar toda a nossa atitude e maneira de conduzir a vida. Temos de mudar toda a nossa política, por assim dizer. Isso pode ser muito doloroso. De repente, começamos a compreender: "Se eu não lutar, como lidarei com meus inimigos? Estará tudo bem para mim se eu não lutar, mas que dizer deles? Eles, ainda assim, continuarão lá." Esse é o ponto interessante.

P: Ver a parede, reconhecer que estamos ali e não seguirmos adiante — parece uma posição muito perigosa.

R: É precisamente esse o ponto: não é perigosa. Poderá ser dolorosa no momento em que compreendermos que a parede é sólida e que estamos presos por ela, mas é esse, justamente, o ponto interessante.

P: Mas o sr. não acabou de dizer que o desejo de voltar ao outro estado, o espaço aberto, é instintivo?

R: Afirmei sim, mas esse macaco não se deixará apenas ser outra vez. Ele luta continuamente, ou se envolve em alucinações. Nunca pára, nunca permite a si mesmo sentir realmente alguma coisa de maneira adequada. Aí é que está o problema. Eis por que o simples parar, o simples permitir uma lacuna, é o primeiro passo na prática da meditação.

P: Digamos que você tenha uma dificuldade, uma inibição, e está muito consciente dela. A inibição desapareceria pela simples razão de você ter consciência dela?

R: O fundamental é não tentar imaginar o modo pelo qual escaparemos do nosso dilema, mas, por ora, precisamos pensar em todas aquelas salas claustrofóbicas em que nos encontramos. Esse é o primeiro passo no aprendizado. Temos de nos identificar realmente conosco e sentir-nos de modo correto, o que nos proporcionará inspiração para estudos posteriores. Seria melhor não falar, ainda, em libertar-nos.

P: O sr. diria que essas salas claustrofóbicas eram construções intelectuais?

R: A intensidade da inteligência primordial nos provoca o tempo todo. Por conseguinte, todas essas atividades do macaco não devem ser consideradas como alguma coisa da qual devemos fugir, mas como um produto da inteligência primordial. Quanto mais tentarmos lutar, tanto mais descobriremos que as paredes são efetivamente sólidas. Quanto mais energia empregarmos na luta, tanto mais fortaleceremos as paredes, porque estas precisam da nossa atenção para
se solidificarem. Toda vez que dermos mais atenção às pareces, mais sentiremos a desesperança da fuga.

P: O que o macaco percebe quando olha pelas cinco janelas da casa?

R: Percebe o Leste, o Oeste, o Sul e o Norte.

P: Como lhe parecem?

R: Como um mundo quadrado.

P: E fora da casa?

R: Ele continua a ver o mundo quadrado, pela simples razão de vê-lo através de janelas.

P: Não vê nada à distância?

R: Poderia ver, mas é também uma imagem quadrada; é como pendurar um quadro na parede, não é?

P: O que acontece ao macaco quando toma um pouco de LSD ou de peiote?

R: Ele já o tomou.
ALÉM DO MATERIALISMO ESPIRITUAL
Chögyam Trungpa