jeudi 22 novembre 2007

Reflexões sobre a Impermanência


Aquecimento global é inevitável e 6 bi morrerão, diz cientista

Por Jeff Goodell
James Lovelock, renomado cientista, diz que o aquecimento global é irreversível – e que mais de 6 bilhões de pessoas vão morrer neste século

Aos 88 anos, depois de quatro filhos e uma carreira longa e respeitada como um dos cientistas mais influentes do século 20, James Lovelock chegou a uma conclusão desconcertante: a raça humana está condenada. “Gostaria de ser mais esperançoso”, ele me diz em uma manhã ensolarada enquanto caminhamos em um parque em Oslo (Noruega), onde o estudioso fará uma palestra em uma universidade. Lovelock é baixinho, invariavelmente educado, com cabelo branco e óculos redondos que lhe dão ares de coruja. Seus passos são gingados; sua mente, vívida; seus modos, tudo menos pessimistas. Aliás, a chegada dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse – guerra, fome, pestilência e morte – parece deixá-lo animado. “Será uma época sombria”, reconhece. “Mas, para quem sobreviver, desconfio que vá ser bem emocionante.”

Na visão de Lovelock, até 2020, secas e outros extremos climáticos serão lugar-comum. Até 2040, o Saara vai invadir a Europa, e Berlim será tão quente quanto Bagdá. Atlanta acabará se transformando em uma selva de trepadeiras kudzu. Phoenix se tornará um lugar inabitável, assim como partes de Beijing (deserto), Miami (elevação do nível do mar) e Londres (enchentes). A falta de alimentos fará com que milhões de pessoas se dirijam para o norte, elevando as tensões políticas. “Os chineses não terão para onde ir além da Sibéria”, sentencia Lovelock. “O que os russos vão achar disso? Sinto que uma guerra entre a Rússia e a China seja inevitável.” Com as dificuldades de sobrevivência e as migrações em massa, virão as epidemias. Até 2100, a população da Terra encolherá dos atuais 6,6 bilhões de habitantes para cerca de 500 milhões, sendo que a maior parte dos sobreviventes habitará altas latitudes – Canadá, Islândia, Escandinávia, Bacia Ártica.

Até o final do século, segundo o cientista, o aquecimento global fará com que zonas de temperatura como a América do Norte e a Europa se aqueçam quase 8 graus Celsius – quase o dobro das previsões mais prováveis do relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática, a organização sancionada pela ONU que inclui os principais cientistas do mundo. “Nosso futuro”, Lovelock escreveu, “é como o dos passageiros em um barquinho de passeio navegando tranqüilamente sobre as cataratas do Niagara, sem saber que os motores em breve sofrerão pane”. E trocar as lâmpadas de casa por aquelas que economizam energia não vai nos salvar. Para Lovelock, diminuir a poluição dos gases responsáveis pelo efeito estufa não vai fazer muita diferença a esta altura, e boa parte do que é considerado desenvolvimento sustentável não passa de um truque para tirar proveito do desastre. “Verde”, ele me diz, só meio de piada, “é a cor do mofo e da corrupção.”

Se tais previsões saíssem da boca de qualquer outra pessoa, daria para rir delas como se fossem devaneios. Mas não é tão fácil assim descartar as idéias de Lovelock. Na posição de inventor, ele criou um aparelho que ajudou a detectar o buraco crescente na camada de ozônio e que deu início ao movimento ambientalista da década de 1970. E, na posição de cientista, apresentou a teoria revolucionária conhecida como Gaia – a idéia de que nosso planeta é um superorganismo que, de certa maneira, está “vivo”. Essa visão hoje serve como base a praticamente toda a ciência climática. Lynn Margulis, bióloga pioneira na Universidade de Massachusetts (Estados Unidos), diz que ele é “uma das mentes científicas mais inovadoras e rebeldes da atualidade”. Richard Branson, empresário britânico, afirma que Lovelock o inspirou a gastar bilhões de dólares para lutar contra o aquecimento global. “Jim é um cientista brilhante que já esteve certo a respeito de muitas coisas no passado”, diz Branson. E completa: “Se ele se sente pessimista a respeito do futuro, é importante para a humanidade prestar atenção.”

Lovelock sabe que prever o fim da civilização não é uma ciência exata. “Posso estar errado a respeito de tudo isso”, ele admite.

“O problema é que todos os cientistas bem intencionados que argumentam que não estamos sujeitos a nenhum perigo iminente baseiam suas previsões em modelos de computador. Eu me baseio no que realmente está acontecendo.”

http://www.rollingstone.com.br

mardi 6 novembre 2007

A Roda


Co-surgimento interdependente (Pratityasamutpada)

No terceiro dia apos a sua iluminaçao, o Buda, desenvolveu o conjunto de mecanismos de interaçao que regem os fenômenos. Os doze elos do co-surgimento interdependente (sânsc. pratitya samutpada, literalmente "em dependência, coisas surgem"); o fundamento de todo o estudo e prática budistas.

Mas diferente de fenômenos independentes que reagem entre si de maneira autônoma ou da noção ocidental de um mundo de fenômenos que reagem a uma terceira lei de Newton mergulhados num mar de acaso.

Inicialmente, o Buda descreveu os doze elos apartir da velhice e morte para nos ajudar a tocar o sofrimento e a encontrar suas raízes. Isto está intimamente ligado aos ensinamentos e prática das quatro nobres verdades. Foi posteriormente que os ensinamentos começaram com a ignorância, para justificar o “porque” do nascimento e da morte. A ignorância tornou-se um tipo de causa primeira, mesmo apesar de o Buda sempre ensinar que nenhuma causa primeira pode ser encontrada.


Desenvolvimento historico

Em sua origem, segundo o sutta nipata, eram oito condições que se agrupam a todo instante para a produçao de dukka. Em seguida, desenvolveu-se o Nidana Samyutta e o Mahanidanasutta pali, que no Abhidharma, transformou-se no classico modelo de doze elos responsaveis pela corrente de causas e efeito.

Nessa corrente incessante de fenômenos, que por sua vez desencadeiam outros fenômenos, não encontamos uma figura divina original mas sim o resultado que se desenvolve a partir de determinadas causas.

Teremos entao, os fenomenos interiores e exteriores (a guisa de estudo):

A) Os exteriores, como os brotos que nascem de uma semente em função das causas inerentes da mesma que possibilitam a manifestação em função das condições que envolvem o fenômeno;

B) E os interiores (presente nos seres dotados de consciência) que são dependentes de uma co-produção condicionada; ilustrada na forma de uma corrente de doze elos – ou doze nidanas. Os fenômeos, então, não seriam produzidos por algum tipo de condição divina - mas se desenvolveriam a partir de uma ordem precisa de condições especificas (a velhice e a morte relaciona-se ao nascimento, ao nascimento relaciona-se... ) onde cada um desses fatores é condicionado pelos precedentes e pelos fatores que os seguem e nenhum entre eles é absoluto ou indepentente, assim como não existe uma causa primeira, ou divina de sua manifestação.

Podemos então dizer que todos os fenômenos são: impermanentes, ininterruptos, não se transformam, uma simples causa pode desencadear um grande resultado, e de uma causa e de seu resultado produz-se uma mesma linha de resultados (uma semente de arroz produzira arroz e não lentilhas – segundo o classico exemplo).


Os doze nidanas.

Encontramos nos seres um encadeiamento de causas e efeitos que descrevem as condições do passado, do presente e do futuro. Contudo, normalmente pensamos em causa e efeito como entidades separadas, com a causa sempre precedendo o efeito, e com uma causa conduzindo a um efeito. Mas de acordo com o ensinamento do co-surgimento interdependente, causa e efeito co-surgem (sânsc. samutpada) e tudo é um resultado de múltiplas causas e condições:


A ignorancia (avidya)

Vidya significa visão, entendimento, ou luz. Avidya significa a falta de luz, a falta de entendimento, ou cegueira. Apesar de a ignorância ser geralmente listada como o primeiro elo, não significa que a ignorância é a primeira causa. Também é possível começar a lista com a velhice e morte. Na roda da vida encontramos a ilustraçao de uma velha cega que caminha tateando o solo à sua fente, que é a base de toda causalidade carmica. Mas... ignorancia de que? Das quatro verdades de base. E sobre os seus véus nao percebemos as aparencias pelo o que elas sao e imaginamos um “eu” separado dos fenomenos. E a ignorancia pode ser classificada como base pois o desenrolar da produçao dependente deriva-se da ignorancia da verdadeira natureza de todos os fenomenos; pois como explica Sakyong Mipham, no seu livro Régnez sur votre monde, “Como as emoçoes negativas tem como base a ignorancia as vezes fica dificil de perceber quando estamos sob sua influencia. Para ter uma visao clara desse processo é necessario o desenvolvimento de prajna, a sabedoria, que pode ser cultivada pela pratica da meditaçao”.


Ação volicional (sânsc. samskara),

Que é ilustrado como um artesao fazendo um vaso de argila. Os resulados dos atos entrelaçados do tres tempos – presente, passado e futuro, que nos fazem agir frente a uma determinada situaçao de uma maneira favoravel, neutra ou desfavoravel;

A consciência ou mente (sânsc. vijnana)

Que é ilustrada como um macaco que pula de galho em galho. E a tomada de consciencia do mundo fenomenal em funçao dos residuos carmicos – o que “liga” as sucessivas existencias;

Nome e forma (sânsc. nama-rupa).

Que é ilustrada como uma barca e seus passageiros (o corpo composto de seus agregados que formam a ilusao do “eu”, ou skandas) ). "Nome" (sânsc. nama) significa o elemento mental e "forma" (sânsc. rupa) significa o elemento físico de nosso ser. Tanto a mente quanto o corpo são objetos de nossa consciência;

As seis fontes dos sentidos (os seis ayatanas)

Que é ilustrada na roda da vida como uma casa vazia com seis janelas (visao, paladar, olfato...). Estes seis ayatanas não existem separadamente da mente/corpo (o quarto elo). Quando um órgão do sentido entre em contato (o sexto elo) com um objeto do sentido, deve haver uma consciência do sentido (que está dentro do terceiro elo). Estamos começando a ver como os doze elos interrelacionam-se; como cada elo contém todos os outros elos.

O contato (sânsc. sparsha)

Ilustado pelo casal abraçado e que simboliza o objeto do sentido quando encontra o sentido, isto é, o eco (a reuniao de uma flor e a capacidade de percebe-la), ou seja, o contato entre o órgão do sentido, o objeto do sentido e a consciência do sentido.

A sensaçao ou sentimentos (sânsc. vedana),

Ilustrada pelo desenho de um homem com uma flecha no olho, ou seja, a experiencia em si do agradavel, do desagradavel e do indiferente a partir dos cinco sentidos. Quando um sentimento é agradável, podemos nos tornar apegados (o nono elo).

O desejo (sânsc. trishna)

E o desencadeamento da sensaçao, mais precisamente, a constataçao de que a experiencia da sensaçao ao invés de abrandar a sede, na verdade à instiga e nos faz querer repetir continuamente o processo. Talvez possamos fazer uma ponte com a noçao do Das Ding freudiano, a noçao do vazio existencial fundamental que no deccorrer da vida o individuo tenta preencher com sexo, dinheiro, fama, poder.... Ansiamos o que consideramos agradavel e agimos com aversao ao que consideramos desagradavel.
Esse é o elo fragil dessa corrente; que pode ser quebrada a partir da mesma pela pratica da meditaçao ao reconhecer a real fonte de desejo. E desejo é seguido pelo... apego.

A dependencia ou apego (sânsc. upadana).


Que no desenho da roda é um macaco apanhando uma fruta; o querer para si o objeto agradavel é o que nos leva a continuar girando;

A existencia ou o vir a ser (sânsc. bhava),

O desenho da mulher gravida. O apego a existencia que desencadeia uma nova existencia;

O nascimento (sânsc. jati).

O desenho de uma mulher dando a luz. Uma nova situaçao de vida em funçao de condiçoes acumuladas anteriormente;

A velhice e a morte (sânsc. jaramarana)

O desenho de um homem carregando um cadaver num cemitério. Que representa a dissoluçao de tudo que é impermanente.

Segundo Thich Nhat Hanh em The heart of the Buddha's teaching, não precisa haver exatamente doze elos. Pois nos textos do Abhidharma da escola Sarvastivada, encontramos um, dois, três, quatro ou cinco, até doze elos. Um elo pertence ao reino incondicionado (sânsc. asamskrita). Dois elos são causa e efeito. Três elos são passado, presente e futuro. Quatro elos são ignorância, ações volicionais, nascimento, e velhice e morte. Cinco elos são desejo, apego, vir a ser, nascimento e velhice e morte. Seis elos são causa passada, causa presente, causa futura, resultado passado, resultado presente e resultado futuro.

Poderiamos entao para finalizar fazer o classico exercicio contemplativo:

1. Porque envelhecemos e morremos? Porque nascemos. E tudo aquilo que é composto deve um dia se decompor.

2. Porque nascemos? Em funçao da nossa roda carmica.

3. O que faz girar a nossa roda carmica? A necessidade de querer agarra e satirfazer os desejos e a uma nao compreençao real dos mesmos.

4. De onde vem essa necessidade de agarrar e satisfazer? Da ilusao de um “eu” que necessita possuir o mundo que o cerca para dar sentido a sua existencia.

5. De onde vem essa necessidade, esse desejo? Ela desencadeia-se pelo enconto do sentido com o objeto do sentido e a percepçao do mesmo fenomeno enquanto um dado real, agradavel, desagradavel ou neutro.

6. De onde vem esse encontro, essa sensaçao? Da conclusao erronea de que esse contato por ser capturado.

7. De onde vem esse contato? A partir dos sentidos sensoriais.

8. De onde vem os sentidos sensoriais? Dos cinco agregados (Skandas) que constituem um nome e uma forma.

9. De onde vem esse nome e essa forma? De uma nova consciencia novamente mergulhada na roda da existencia.

10. De onde vem essa consciencia? De condicionamentos carmicos ou traços carmicos.

11. De onde vem esses condicionametos carmicos? Da ignorancia de nossa verdadeira natureza e da confusao que isso gera, nos fazendo agir a partir de um “gosto, nao gosto, me é indiferente”.



Bibliografia:
Encyclopédique du Bouddhisme – Phlippe Cornu, Ed Seuil
The Heart of the Buddha's Teaching - Thich Nhat Hanh, Broadway Books
Régnez sur votre monde – Sakyong Mipham, La Table Ronde

vendredi 2 novembre 2007

Lembranças de Ajahn Chah


Ajahn Chah possuia quatro níveis básicos de ensinamentos, e cada um, embora às vezes muito difícil para os estudantes, eram apresentado com muitas doses de humor e compaixão. Ele dizia que a prática desenvolve-se verdadeiramente apenas se conseguirmos ligar o nosso interior ao nosso exterior. E esta dignidade, essa Verdade, base da prática, emerge graças ao abandono de conceitos erroneos, e à uma disciplina impecavel.

No ocidente, compreendemos a liberdade como algo que significa «liberdade de se fazer o que se deseja » ; mas eu penso que a gente pode perceber que não ha liberdade alguma ao seguir os caprichos de nossos desejos. Na verdade, esse tipo de pseudo liberdade é nada mais nada menos do que uma prisao – uma espécie de gaiola de ouro. Por outro lado, uma liberdade mais profunda, ensinada através do Dhamma, é a liberdade que vai além da forma: a liberdade que a gente pode descobrir ao desenvolver uma relação verdadeira com os outro, a liberdade de ter nascido num corpo com as suas limitações, a liberdade de apenas estar « ali ».

Ajahn Chah, basicamente, desenvolvia uma situação onde dignidade, respeito e precissão estavam presentes. Exigia realmente muito das pessoas. Provavelmente muito mais do que que elas haviam experimentado em toda a sua vida. Buscava desenvolver em nos o « saber compartilhar », o « estar atento » e o « ser inteiro ». Às vezes, a prática era maravilhosa: tudo ficava tão claro e fresco como as primeiras impressões de mundo em nossa infância; mas às vezes tudo era muito difícil. Ele dizia então: "Isso não é um problema. A questão é conseguir desenvolver, alcançar e estabilizar a nossa paz de espirito".

Meditavamos durante longas horas numa sala cujo o chão era de pedras. E utilizavamos como almofada de meditação um pedaço de pano que colocavamos sobre o solo. Recordo-me que no início, quando então para mim a pratica era muito dolorosa, eu costumava ser um dos primeiros a chegar para escolher um lugar proximo de uma pilastra - para eu poder me encostar. Depois de uma semana, numa noite, Ajahn Chah, após a meditação, começou a falar sobre como a verdadeira prática do Dhamma deve ser: independente de todas as circunstâncias, independente da necessidade de se apoiar sobre o que quer que seja. E então olhou-me...

Às vezes, durante a nossa pratica ele poderia receber algum convidado ou dar alguma longa entrevista; e nos não podiamos parar a pratica. Ficavamos la pensando: « Ele não sabe que estamos sentados aqui ha horas? Não imagina que alguns de nos podem estar com sede e outros necessitando de esticar as pernas ? ». E claro que ele sabia o que estavamos pensando mas continuava a fazer o que estava fazendo. E a gente continuava la sentado percebendo os nossos jogos mentais.

A capacidade de resistência dos monges que vivem nas florestas é de extrema importância. Pois para Ajahn Chah essas « dificuldades » eram completamente normais. Ele não se preocupava com o fato das pessoas provarem essas dificuldades. Normalmente ele chegava perto da gente e perguntava: "Você esta em cólera? De quem é o problema: meu ou seu? ». Logo, ficava claro que era necessario realmente mergulhar no dhamma, não para fazer bonito, ou fazer algo correto, ou para impressionar Ajahn Chah, mas para nós mesmos.

E a partir dai a gente começava a aprender a realmente se abrir e a ver claramente o que se passava – dentro e fora de nós. Era essencial, na nossa prática, ser verdadeiro para conosco e para com o mundo, não importa em que situação estivessemos. Sentado debaixo de seu kutî e cercado de diversos visitantes laicos e de discípulos que vinham visita-lo frequentemente - alguns monges riam e contavam historias engraçadas - ele dizia:" Queria apresentar a vocês meus monges. Este gosta de dormir muito. Aquele la, fica doente o tempo todo, ele utiliza isso como seu pequeno truque; ele passa o seu tempo a se lamentar disso. Este outro é um gordo comedor; come mais que dois ou três monges reunidos. Aquele ali gosta muito dos questionamentos, ele realmente gosta disso. Gosta tanto de duvidar de tudo que acaba se perdendo em suas duvidas. E, imaginem, tinha três mulheres ao mesmo tempo! Este aqui gosta de méditar durante muito, muito tempo; em qualquer situação que se apresente ele deseja ir meditar - eu acho que ele tem medo das pessoas... »

Continuava apresentando todos, de uma maneira muito engraçada, mas ao mesmo tempo sendo profundamente honesto. Podia verdadeiramente levar as pessoas à perceber a sua propria personalidade e as suas proprias fixações. Quando eu estava fazendo as traduções para os ocidentais presentes, ele dizia: "Embora eu não conheça o inglês, sei perfeitamente que o meu tradutor deixa lado todas as coisas realmente duras que eu digo. Contorna os pontos dolorosas e deixa de lado o que pode vir a feri-los, ele então torna as minhas palavras agradáveis para vocês. Não podemos confiar muito nele ».

Em primeiro plano temos a dignidade de simplesmente estar onde estivermos e o abandono de qualquer tipo de expectativas: perceber verdadeiramente o nosso momento e viver completamente o Dhamma. Em seguida é necessário aprender a ver honestamente o mundo de fenomenos, a ser realmente honesto para com a gente e para com as pessoas que nos cercam; perceber os limites mas ao mesmo tempo não ser prisioneiro das situações externas.

Quando perguntavam: « Qual é mais o maior problema com os novos discípulos ? » ele respondia: "Os prejulgamentos, as opiniões ja formadas a respeito de tudo. Normalmente são pessoas muito cultas. E em função dessa erudição elas obviamente conhecem muitas coisas. E em função dessa carrocça muito pessada de conceitos e idéais como podem aprender algo novo? Mas cabe somente a eles como observar a propria sabedoria e desenvolve-la. Podem me tomar de exemplo, mas estejam realmente atentos a sua propria prática. Se por acaso, vocês acham que eu estou descançando enquanto que todos estão sentados em meditação, isso provoca a sua cólera? Ou se digo que o céu é vermelho em vez de azul, não me sigam cegamente. Um dos meus mestres comia muito rapidamente e fazendo barulho. Contudo, dizia para que comessemos lenta e cuidadosamente. Eu o observava o tempo todo e ficava muito incomodado com aquilo. Sofria bastanta com o que eu achava ser os erros de meu mestre. Mas ele não! Pois eu via somente o que podia ver – percebia somente o exterior. Mais tarde eu finalmente entendi. Como por exemplo, podemos usar uma metafora automobilistica: alguns dirigem muito rapidamente, mas prudentemente, e outros conduzem lentamente mas sofrem muitos acidentes - devido a falta de atenção. Não fiquem presos às regras ou àquilo que somente os olhos estão percebendo. Perceber em primeiro lugar o proprio umbigo é a prática correcta! No início, eu passava todo o tempo observando o meu mestre, Ajahn Tongrath, e tinha muitas dúvidas em funçao daquilo que eu achava ser os erros no seu comportamento. Algumas pessoas pensavam mesmo que ele era louco. Pois ele fazia coisas estranhas e era extremamente severo para com os seus discípulos. Aparentemente, estava em cólera mas internamente não havia nada. Era notável. E viveu assim até o momento da sua morte. Julgando, comparando, discriminando… não encontraremos a felicidade desta maneira. De maneira alguma você encontrará a paz se passar todo o tempo procurando externamente o homem perfeito, a mulher perfeita ou o mestre perfeito. »

Jack Kornfield http://www.vipassana.fr/

http://www.buddhaline.net

jeudi 1 novembre 2007

As 37 Práticas de Todos os Bodhisattvas


O Mestre vê todas as coisas que estão para além do vai e vêm, E mesmo assim luta incansavelmente para o bem dos seres vivos – Meu precioso guru inseparável do Senhor Avalokita, Com respeito eu vos presto homenagem perpétua, com o meu corpo, palavra e mente.

Os perfeitos budas, que são a fonte de todo o beneficio e alegria, aparecem como seres através da realização do Dharma sagrado. E isso depende de saber como praticar o Dharma, eu vou descrever as práticas de todos os herdeiros legítimos dos budas.


1. A prática de todos os bodhisattvas é estudar, reflectir, e meditar,
incansável, tanto de dia como de noite, sem nunca cair na ociosidade,
Para se libertar a si e aos outros deste oceano do samsara, tendo ganho este supremo vaso corporal - uma vida humana favorável e livre, que é tão difícil de encontrar.

2. A prática de todos os bodhisattvas é deixar para trás de si a sua terra natal,
onde o apego à família e amigos nos subjuga como uma enxurrada. Enquanto a aversão aos nossos inimigos nos rói interiormente como um fogo escarlate, e a escuridão ilusória eclipsa ou seja torna incompreensível, a linha de conduta que devemos seguir e o que deixar para trás.

3. A prática de todos os bodhisattvas é ir regularmente para lugares solitários,
evitando o que não é saudável, para que as emoções destrutivas gradualmente desaparecem, e, na ausência de distracções, a prática virtuosa naturalmente se fortalece avançando rapidamente, com a consciência atenta e focalizada, adquirimos convicção nos ensinamentos.

4. A prática de todos os bodhisattvas é renunciar a todas as preocupações da vida,
durante muito tempo fizemos amizades e relacionamentos com familiares, e
agora todos nós temos que seguir caminhos separados; riquezas e bens tão penosamente adquiridos, devem ser deixados para trás; e a consciência, a convidada que mora no nosso corpo, também um dia deve partir.

5. A prática de todos os bodhisattvas é evitar amigos destrutivos, Na companhia dos quais os três venenos da mente ficam mais fortes, e por causa deles cada vez estudamos, reflectimos e meditamos menos, e tanto o amor como a compaixão esmorecem, até se extinguirem.

6. A prática de todos os bodhisattvas é estimar os amigos espirituais[2]
Pensando neles como ainda mais preciosos que o próprio corpo, pois são eles que nos ajudam a livrar-nos de todos os nossos defeitos, e que fazem com que as nossas virtudes cresçam ainda mais, tal como a lua crescente.

7. A prática de todos os bodhisattvas é tomar refugio nas Três Jóias, pois elas nunca deixam sem resposta, os protegidos que os apelam, os deuses comuns do mundo não podem ajudar ninguém enquanto eles próprios estiveram na armadilha
do ciclo vicioso do samsara, não é assim?

8. A prática de todos os bodhisattvas é nunca cometer um acto prejudicial,
mesmo que isso ponha a sua própria vida em risco, pois o próprio Sábio ensinou que as acções negativas quando chega a hora nos levam ás múltiplas misérias dos mundos inferiores, tão difíceis de suportar.

9. A prática de todos os bodhisattvas é lutar para atingir o seu objectivo,
que é o estado supremo imutável, a libertação eterna, pois a felicidade dos três reinos só dura um momento, e logo se vai embora, tal como gotas de orvalho em colinas de ervas

10. A prática de todos os bodhisattvas é desenvolver o bodhicitta, assim como proporcionar a liberdade a todas os infinitos seres sensíveis, como seria possível encontrar a verdadeira felicidade enquanto, as nossas mães que cuidaram de nós através dos tempo, carregam uma dor?

11. A prática de todos os bodhisattvas é fazer uma troca genuína da felicidade pessoal e bem estar, por todos os sofrimentos dos outros. Toda a miséria vem da procura da felicidade pessoal só para si, enquanto o estado de buda perfeito nasce do desejo do bem dos outros.

12. Mesmo se outros, sob a influencia de um grande desejo, roubarem, ou encorajarem os outros a roubar todas as riquezas que tenho, dedicar-lhes totalmente o meu corpo, bens e todos os meus méritos do passado, presente, e futuro – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

13. Mesmo se os outros quiserem cortar a minha cabeça, embora eu nada tenha feito de mal, tomar sobre mim próprio, com compaixão, todos os males que eles acumularam – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

14. Mesmo que os outros declarem a toda a gente montes de coisas desagradáveis sobre mim, retribuir-lhes, falando só bem deles, com uma mente cheia de amor – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

15. Mesmo que os outros exponham os meus erros escondidos ou digam horrores sobre mim, quando discursam em grandes conferências pensar neles como amigos espirituais e inclinar-se ante eles com respeito – esta é a prática de todos os bodhisattvas

16. Mesmo que os outros, de quem cuidamos como se fossem nossos filhos, se voltam contra mim e me tratam como inimigo, olha-los com dedicação e afecto, tal como uma mãe olha o seu filho mal-humorado – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

17. Mesmo se outros, iguais ou inferiores a mim em estatuto, com arrogância, me desprezam, para os homenagear, tal como o faria ao meu mestre, inclino a minha cabeça perante eles – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

18. Mesmo sendo desamparado e ignorado por todos, fraco devido a uma terrível doença e importunado por espíritos malignos, ainda assim tomar sobre mim todas as doenças de todos os seres e acções nefastas, sem nunca perder a bondade do meu coração – esta é a prática de todos os bodhisattvas

19. Mesmo sendo famoso e reverenciado por todos , e tão rico como Vaishravana, o deus da riqueza. Ciente da futilidade de toda a glória e riquezas deste mundo,
e não ser vaidoso – esta é a prática de todos os bodhisattvas

20. A prática de todos os bodhisattvas é controlar a mente, com as forças do amor generoso e da compaixão. Pois a não ser que o adversário real – a minha própria ira –seja derrotada, os inimigos exteriores, mesmo que os conquiste, voltarão a aparecer.

21. A prática de todos os bodhisattvas é afastar-se imediatamente das coisas que levam ao desejo e ao apego. Pois os prazeres dos sentidos são tal e qual como a água salgada: Quanto mais os provamos, mais a nossa sede aumenta.

22. A prática de todos os bodhisattvas é nunca alimentar conceitos, que envolvem as noções dualistas de perceber e ser percebido, sabendo que todas estas aparências são a própria mente, cuja natureza intrínseca está para sempre para além das limitações de ideias.

23.A prática de todos os bodhisattvas é não se agarrar a nada, e quando vê coisas que considera agradáveis ou desagradáveis, deve considerá-las como arco-íris num céu de verão – Aparentemente bonitos, mas realmente desprovidos de qualquer substãncia.

24. A prática de todos os bodhisattvas é reconhecer a ilusão, sejam eles confrontados com a adversidade ou infortúnio. E como esses sofrimentos são como a morte de uma criança num sonho, e é tão cansativo agarrar-se ás percepções ilusórias tendo-as como reais.

25. A prática de todos os bodhisattvas é ser generoso, sem esperanças de recompensas kármicas ou expectativas de prémios. Pois se aqueles que buscam a iluminação até dão os seus próprios corpos, será necessário mencionar simples objectos e bens exteriores?

26. A prática de todos os bodhisattvas é respeitar uma ética restritiva, sem a mínima intenção de continuar na existência samsarica. Sem disciplina nunca ninguém terá como certo o seu próprio bem estar, E assim qualquer pensamento de como beneficiar os outros será absurdo.

27. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a paciência, livre de qualquer traço de animosidade contra alguém, como qualquer fonte de mal é como um tesouro principesco para o bodhisattva que deseja ardentemente usufruir da riqueza da virtude.

28. A prática de todos os bodhisattvas é lutar com diligente entusiasmo – a fonte de todas as qualidades – quando trabalham para o bem de todos os que vivem; vendo que mesmo os shravakas e pratyekabuddhas, que só se esforçam para eles próprios – dedicam a ele todos os seus esforços, como se urgentemente tentassem extinguir fogos por cima das suas cabeças.

29. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a concentração, que transcende superiormente as quatro absorções sem forma, sabendo que as aflições mentais são ultrapassadas inteiramente ao alcançar com esforço uma intuição interior, acompanhada por uma calma estável.

30. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a sabedoria, para além das três esferas conceptuais, aliadas aos meios hábeis, como não é possível atingir o nível perfeito do despertar só através das outras cinco paramitas, sem a sabedoria.

31. A prática de todos os bodhisattvas é examinar-se continuamente e livrar-se dos seus defeitos mal eles apareçam. Pois a não ser que façamos o check in cuidadoso da nossa própria confusão, alguém parece evidenciar que prática o Dharma, mas opera contra ele.

32. A prática de todos os bodhisattvas é nunca falar desfavoravelmente dos que caminham no grande veiculo, pois se, sobre a influencia das emoções destrutivas,
eu falar das quedas dos outros bodhisattvas, o erro será meu

33. A prática de todos os bodhisattvas é abandonar o apego aos patronos, à família e amigos, pois o estudo, a reflexão e a meditação diminuem quando à discussões e competições por honras e recompensas.

34. A prática de todos os bodhisattvas é evitar palavras duras, que possam ser consideradas pelos outros desagradáveis e detestáveis, porque a linguagem ordinária perturba a mente dos seres, e arruina a conduta do bodhisattva.

35. A prática de todos os bodhisattvas é chacinar o apego e todas as outras aflições mentais, mal elas emergem, tomando como armas os remédios apoiados na atenção plena e na vigilância pois uma vez que as kleshas se tornam familiares, são difíceis de evitar.

36. Resumindo, seja o que for que façamos, examinemos sempre o estatuto da nossa mente, sempre em estado de alerta e com atenção plena, fazer o bem aos outros – esta é a prática de todos os bodhisattvas

37. A prática de todos os bodhisattvas é dedicar-se a atingir a iluminação
toda a virtude ganha ao esforçar-se nesses caminhos, com sabedoria que purifica as três esferas conceptuais, podendo assim fazer desaparecer o sofrimento dos seres infinitos

Aqui expus para aqueles que querem seguir o caminho do bodhisattva, As 37 práticas que devem ser adaptadas pelos herdeiros legitimos dos budas, Baseado nos ensinamentos dos sutras, tantras, e tratados, E seguindo as instruções dos grandes mestres do passado.

Como a minha inteligência é pouca e pouco estudos fiz, Este não é um texto que vá satisfazer os entendidos Mas como confiei nos sutras e no que os santos ensinaram
Eu sinto que verdadeiramente estes são os treinos autênticos, dos herdeiros legítimos dos budas Mas, as ondas enormes da actividade dos bodhisattvas
São difíceis para a mente de uma pessoa simples como eu, de apreender, E assim imploro a compreensão de todos os santos perfeitos Por qualquer contradição, irrelevâncias ou outros falhas, nele contidas.

Através do mérito que ganhei, possam todos os seres, Gerar o sublime bodhichitta, tanto relativo como absoluto, E através disso, tornarem-se iguais ao Senhor Avalokiteshvara, Transcendendo os extremos da existência e da imobilidade.

Este texto foi composto numa cave perto de Ngulchu Rinchen pelo monge Thokmé, um professor em escrituras sagradas e dialéctica, para o seu bem e dos outros.

Dedicatória:

"Tal como os Budas e os Bodhisattvas seguiram o estilo de vida dos Bodhisattvas, beneficiando todos os seres sensíveis, possamos nós também seguir os seus passos."
Jikmé Khyentse Rimpoche

"Tal como os Budas e Bodhisattvas conseguiram desenvolver um bom coração para com todos os seres, possamos nós também ter a capacidade de o desenvolverr."
Tulku Pema Wangyal Rimpoche

Traduzido por chodon (Conceição Gomes)
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