dimanche 2 mai 2010

O Intelecto e o Trabalhar com a Negatividade





As pessoas geralmente se perguntam, Não seria possível não fazer estudo algum no caminho espiritual? Não podemos apenas meditar e aprender tudo de nossas experiências? Muitas pessoas acreditam que se você sentar e meditar muito, você não terá que ler escrituras ou estudar qualquer coisa. Elas dizem que apenas meditando tudo virá até você. Esse enfoque parece ser parcial. Não deixa espaço para afiar o intelecto ou disciplinar a mente.

Também não leva em consideração o conhecimento que nos impede de cair em estados de absorção, conhecimento que nos diz que é necessário abandonar certos estados e nos colocar em outro estado de espírito. O estudo e o aprendizado escolástico são algo extremamente importante para nós. É isso que é demonstrado por Padmasambhava em seu aspecto erudito. Um dos problemas com relação ao intelecto e a compreensão intelectual é que se buscarmos e encontrarmos respostas, conclusões, deduções lógicas, tendemos a ficar com uma opinião elevada de nossa compreensão.

Se desenvolvemos isto, então podemos não ser mais capazes de experimentar as coisas apropriadamente ou mesmo aprender qualquer coisa dos ensinamentos. Nos tornamos eruditos e ratos de biblioteca endurecidos. Podemos começar a achar que as práticas são inseguras se não sabemos o que elas são, então temos que estuda-las detalhadamente primeiro. Esta atitude pode ir até o ponto de dizer que se você realmente quer estudar os ensinamentos budistas, primeiro você tem que aprender sânscrito, bem como japonês ou tibetano. Você não pode sequer começar a meditar antes de ter aprendido estas línguas e estudado os textos apropriados.

Esta atitude sugere que o estudante deva se tornar um super-erudito. Quando o estudante tiver se tornado um erudito extremamente perfeito, ele atingiu a buditude. Ele tem todas as respostas; sabe tudo de trás para frente. Esse tipo de onisciência, de acordo com essa visão, cria um Buda. Esta visão de que o ser iluminado é uma pessoa com uma grande formação, um grande erudito, é um erro, é outro extremo. A iluminação não é apenas uma questão de acumular informação. Se um Buda não sabe trocar seus pneus de neve, por exemplo, uma pessoa com essa visão pode começar a duvidar dele. Afinal, supõese que ele seja onisciente; como ele pode ser um Buda se ele não sabe fazer isto? O Buda perfeito seria capaz de nos surpreender com seu conhecimento em todas as áreas. Ele seria um bom cozinheiro, um bom mecânico, um bom cientista, um bom poeta, um bom músico ele seria bom em tudo.

Esta é uma idéia difusa ou distorcida do que seja um Buda, para dizer o mínimo. Ele não é esse tipo de especialista universal, não é um superprofessor. Mas se a idéia apropriada de compreensão intelectual e aguçar o intelecto não é nos alimentar de milhões de bites de informação e nos transformar em uma biblioteca ambulante, o que é então? Está ligada comdesenvolver precisão e tino ao nos relacionarmos com a natureza da realidade. Isto não tem nada a ver com deter-se em conclusões lógicas ou conceitos. Devemos ter uma atitude neutra em nosso estudo intelectual dos ensinamentos, uma que não seja puramente crítica nem puramente devocional. Não tentamos chegar à conclusões. A finalidade do estudo, ao invés de chegar a conclusões, é experimentar as coisas lógica e sensivelmente. Este parece ser o caminho do meio [entre os extremos de rejeitar o intelecto e enfatiza-lo exclusivamente].

Tornar-se realizado no estudo intelectual geralmente significa formar opiniões sólidas. Se você é um erudito, seu nome se torna interessante de mencionar se você fez alguma descoberta intelectual. Mas o que nós estamos falando aqui não é exatamente uma descoberta no sentido acadêmico, mas descoberta no nível de examinar e lidar com a experiência pessoal. Através de um processo deste tipo, sua experiência pessoal é trabalhada é batida, aquecida e martelada como quando trabalhamos com ouro, para usar uma analogia escritural. Ao lidar com nossa experiência, comemos, mastigamos, e finalmente engolimos e digerimos. Desta forma, a coisa toda se torna trabalhável; seu foco não é apenas no estrelato, como ao desenvolver suapersonalidade no formato de uma pessoa muito erudita um budologista ou um tibetanologista ou algo desse tipo.

Em outras palavras, o intelecto aqui significa ausência de um observador.

Louca Sabedoria
Chögyam Trungpa