mercredi 5 décembre 2007

Budista - do que se trata?



Desfazendo Confusões

Quais são os equívocos e confusões mais comuns na exegese dos ensinamentos do Buddha que surgem por causa de nossos "cacoetes" culturais? Nem sempre as confusões são culturais. Alguns erros comuns que se
percebe são:


- achar que o objetivo da meditação seja esvaziar a mente e não pensar em nada;

- acreditar que os ensinamentos sejam explicações sobre a realidade e não um método de ir do sofrimento para a liberdade;

- dar muita importância ao contexto histórico (muitas vezes ao mesmo tempo em que
paradoxalmente se dá pouca importância ao aspecto formal), tratar o o dharma como um evento social e cultural apenas;

- acreditar que é o suficiente ler sobre budismo e tentar praticar sozinho (não levar a sério o refúgio na sangha);

- acreditar que não há problema em estudar o dharma aleatoriamente, ou de acordo meramente com desígneos e inclinações pessoais;

- achar que o professor é dispensável.

- acreditar que renúncia significa cortar a relação com as pessoas ou ser indiferente para com elas;

- achar que compaixão leva a uma espécie de passividade para com quem nos prejudica (uma pessoa compassiva seria sempre "passada para trás", ou feita de boba);

- achar que todo monge é um professor do dharma, que todo lama é monge, e coisas desse tipo (confundir títulos hierárquicos dentro de uma organização, ordenação tomada através de votos perante a sangha e ordenação pela linhagem através da realização);

- achar que se pode "escolher" qual linhagem se segue, ou mesmo que prática se faz ou que ensinamento se aceita - sem entender que este são processos de relacimento com a sangha, e não decisões unilaterais, mesmo porque dependem muito de conexões e possibilidades cármicas que podemos possuir ou não;

- confundir não-existência com não-existência inerente, por exemplo, quande se fala "o eu não existe", e se acha que ele não existe convencionalmente;

- achar que iluminação é uma espécie de êxtase;

- achar que "samsara" é um mundo inerentemente existente ("este mundo", ou ainda, o trabalho, os filhos, a festa - e não o centro de dharma, por exemplo), e não uma experiência;

- achar os reinos são meras metáforas, reificando o reino humano como inerentemente existente

- ou, no extremo oposto, acreditar na existência inerente de todos os reinos;

- achar que o budismo promove algum tipo de liberalidade ou relativismo;

- acreditar que os diversos níveis de ensinamentos são incompatíveis, ou achar que não há níveis de ensinamentos;

- particularmente no vajrayana, tratar as práticas e ensinamentos como uma "escolinha", na qual se procura atingir o mais rápido possível a "pós-graduação";

- achar que o renascimento evita o medo da morte;

- achar que renascer necessariamente é uma boa coisa;

- achar que carma é linear;

- achar que o tempo de prática ou de estudo que um determinado praticante tenha
necessariamente implique que ele seja um bom praticante;

- achar que os títulos, roupas ou posto, que um praticante possui necessariamente impliquem que ele seja um bom praticante;

- buscar o dharma como quem se filia a um clube (apenas uma atividade social a mais), ou buscar o budismo para ganhar um título, ou roupas, ou posto;

- esperar uma cobrança para efetuar oferendas em dinheiro ou trabalho (e pior, a cobrança é feita, numa dupla distorção que passa a ser circular);

- esperar que o dharma venha até você - não achar necessário viajar, mesmo dentro do próprio Brasil, para ir atrás de ensinamentos - e esperar que uma "filial" seja instalada em sua cidade, por iniciativa da "central" (e pior, mesmo sem uma sanga existir, numa dupla distorção, a "central" produzir um templo e ficar esperando uma sanga se formar - sendo que a sanga que faz o templo, não vice-versa);

- tratar o professor como amigo, terapeuta ou pai (embora o professor possa usar essa conexão para nos tocar de alguma forma, devemos paulatinamente entender o papel do professor e nos posicionarmos de acordo, e não descansar nessas atitudes);

- esperar que os budistas sejam santos e realizados e (naturalmente) se decepcionar ao encontrar com eles;

- esperar que as pessoas na sanga sejam agradáveis (ou pior, achar que você pode ser desagradável porque todos ali deveriam ser bons praticantes de paciência);

- usar o templo/sala como clube para encontrar amigos (ou mesmo namorado(a)s));

- tomar os retiros como apenas ou necessariamente um momento de descansar da vida atribulada (muitas vezes eles são mais intensos e cansativos do que nossa vida cotidiana);

- procurar o budismo para vencer o estresse ou ficar mais saudável - tratar o budismo como uma mera forma de terapia (embora possa ser uma porta de entrada, é preciso amadurecer esta pseudo-conexão e transformá-la numa conexão de fato);

- procurar no budismo explicações sobre o "sentido da vida" ou a "natureza da realidade" (em geral, se essa for a atitude, apenas surgirão mais dúvidas - a atitude com relação ao darma é reconhecer a doença verdadeira, o sofrimento da experiência cíclica, e buscar o
dharma como remédio, não como explicação);

- decepcionar-se por não ser proselitizado;

Padma Dorje

http://tzal.org