samedi 15 septembre 2007

O monge e o Lama


Depois da publicaçao do livro O monge e o Lama pela editora Fayard em 2001, Dom Robert Le Gall, abade do monastério beneditino Saint-Anne de Kergonan, na Bretanha, e o lama Jigmé Rinpoché, que dirige o centro tibetano de Dhagpo Kagyu Ling na Dordonha, continuam mais proxmos do que nunca.

Qual seria o ponto mais importante desse dialogo?

Dom Robert: um verdadeiro dialogo. Sereno e positivo onde cada um realmente escutava o que o outro narrava de sua experiencia espiritual a partir do ponto de vista de seu caminho monastico. Das religioes orientais, eu conhecia um pouco do Hinduismo através dos livros do padre Henri Le Saux, que também é monge da abadia Sainte-Anne de Kergonan; mas nao conhecia quase nada sobre o Budismo. E de certa forma isso me permtiu, atraves desse dialogo, a colocaçao de perguntas bem simples que desdobravam-se até o fudamental de nossos caminos espirituais. Mas o primeiro resultado positivo desse livro foi o proprio encontro que teve como base uma vedadeira abertura ao outro sem nenhum tipo de “a priori”. Lama Jigmé passou tres dias em nossa abadia e eu passei tres dias no centro budista Dhagpo Kagyu Ling. Nos tivemos nesse tempo a grande oportunidade de nos entendermos, de nos escutarmos mutualmente, de nos compreendermos, muitas vezes, além mesmo das palavras. Esses encontros cotinuaram através de numerosas conferencias que nos viemos a participar juntos. E nos aprofundamos cada vez mais em nossas trocas em funçao das questoes que nos eram colocadas nessas conferencias.

Lama Jigmé Rimpoché: A compreençao do cristianismo ficou infinitamente mais clara para mim. Em funçao da profunda sabedoria e da clareza das explicaçoes de Dom Robert, eu pude entrar em contato com a profunda significaçao da fé crista e de seu caminho espiritual. Assim com ficou claro a profunda graça e paz de espirito que o cristianismo pode oferecer e a maneira como ela pode encaminhar seus seguidores rumo ao absoluto. Com relaçao a todos os aspectos nossas expectativas à esse encontro foram satisfeitas. E além disso guardei em meu coraçao, como presente desses dialogos, o calor e a imensa energia possitiva desse encontro amigo onde o respeito mutuo esteve presente todo o tempo. Varios feedback nos foram dados por numerosos leitores e todas essas posteriores observaçoes nos inspirarm muito assim como minhas reflexoes pessoais.

Em que esses dois caminhos espirituais seriam mais proximos?

Dom Robert: o estilo de vida nos aproxima – nos somos monges e portamos nossos respectivos habitos, seguimos uma regra de vida e acentuamos nossa vida interior. E em funçao disso, rapidamente nos compreedemos mutuamente. Nos dois caminhos a vida monastica tem uma forma bastante parecida assim como os pontos essencias de nossos caminos espiriuais – renuncia, iluminaçao e uniao com o Todo Assim como o estudo dos textos, a meditaçao, e o silencio; como simbolo da plena adesao ao Mistério. A utilizaçao de simbolos, de lamparinas, de incensos, e de oferendas, nos aproxima também (risos).

Lama Jigmé Rimpoché: os pontos de mais significaçao sao as similariedades de ambas as vidas monasticas. A pecepçao do grande bem estar que proporciona as preces assim como a meditaçao; a correspondencia entre a boa motivaçao e o caminho de bodhisattvas e os santos cristaos e a ligaçao entre a contemplaçao crista e alguns aspectos das praticas meditativas budistas (...).

E qual seiam as difernças?

Dom Robert: a dificuldade de se definir o que se entende por absoluto. Que dentro do cristianismo toma a forma de Deus que nos enviou seu filho, Cristo, como o portador do Pai, do Filho (ele mesmo) e do Espirito Santo.(...) a nao-identificaçao de desse absoluto assim como o conceito de impermanencia representou para mim o maior desafio de nosso dialogo: e com relaçao a esses pontos, os rios de nossas tradiçoes tomaram rumos diferentes (risos). Pude perceber que o budismo nao busca uma definiçao do Absoluto, pois seria impossivel falar sobre o mesmo sem ter realizado a iluminaçao – o nirvana. Depois de inumeras insistencias de minha parte para uma definiçao, Lama Jigmé Rimpoché, finalmnte me respondeu “o absoluto seria como um azul purissimo” (risos) Ele habilmente me definiu essa divergencia e eu entendi sua expliçao automaticamente – o que muito me emocionou. Pois segundo a tradiçao judaico-crista, apos a oferenda de Moisés, aos pés do monte Sinai, do sacrificio da Aliança, ele caminha até o alto do monte com alguns eleitos e é dito: “eles viraram o deus de Israel. Sob os seus pés havia uma base de safira, tao puro como o céu ele mesmo” (Ex 24:10) Nos reencontramos entao de uma certa maneira graças a esse azul profundo que para o profeta Ezequiel é proximo do misterio de Deus (Es 1.26; 10.1).

Lama Jigmé Rimpoché: sobre dois pontos – o conceito de reencarnaçao e o conceito de carma. Para o cristao, depois da morte a alma segue o seu caminho que passa pelo purgatorio e em seguida continuaria rumo ao inferno ou ao paraiso. O budismo vajrayana, que enfatiza um continuum da consciencia, se posiciona de uma forma diferente com relaçao a essa questao.(...) Embora o cristianismo também explique o carma enquanto atos que influenciariam o devir de um um ser, para o budismo, esse carma também engendraria as condiçoes de nossa vida nos tres tempos, assim como seu desdobramento.(...)

Le Monde des Religions