vendredi 3 juin 2011

Você está à altura do seu destino?


Velho e cansado, sofrendo de cólicas e disenteria, Cortez em nada se parecia com o destemido soldado de tempos atrás, protagonista de aventuras inimagináveis no coração da América. Agora, de nada lhe adiantavam as antigas glórias e as honras pelas quais tanto lutara. A força, a energia e a coragem do guerreiro haviam sido minadas pela ação impiedosa do tempo. As mesmas mãos que empunharam tantas espadas, não tinham vitalidade nem mesmo para assinar documentos, precisando de ajuda para segurar a pena. Foi assim, debilitado, que o capitão espanhol passou seus últimos dias. Nas horas de maior agonia pôde contar apenas com os cuidados de Joana de Quintanilha e do amigo e médico Cristóvão Mendes.

O capitão Cortez viria a falecer numa sexta-feira, aos 62 anos, no dia 2 de dezembro de 1547, 26 anos após a conquista da grande Tenochtitlán. Sua partida teve poucas testemunhas: seu filho Martim, um padre, um primo e um amigo. O ritual fúnebre completou-se dois dias depois, quando o corpo finalmente foi enterrado após ser levado em cortejo acompanhado por capelães das paróquias vizinhas.

A morte de Cortez, contudo, marcou alguns começos. Suas proezas e aventuras foram registradas e relatadas como feitos importantíssimos, que se tornaram lendários e passaram a ocupar as páginas da História. Como personagem histórico, Cortez virou figura polêmica: herói ou vilão? Perverso ou piedoso? Político ou sanguinário? Fiel ou maquiavélico? E passou, então, a ser julgado pelo tempo. Sua imagem seria interpretada, construída e reconstruída de diversas maneiras ao longo da história e seus diferentes períodos, de acordo com interesses e questionamentos variados. Assim, uma vida - repleta de viagens, aventuras, guerras e paixões - adquiriu diferentes significados com o passar dos séculos. Povos e épocas distintos constituiriam memórias próprias do capitão espanhol, e o fazem até hoje. Assim, não é arriscado afirmar que sempre existirão diversos "Cortezes", respondendo às angústias e aos problemas dos homens que leem a história sob distintas óticas.

Diante de tal figura, cabe, então, a mesma interrogação proposta por Hamlet: "Você está à altura do seu destino?".

"Hernán Cortez: Civilizador ou Genocida?"
Autor: Marcus Vinícius de Morais
Editora: Editora Contexto