mardi 6 juillet 2010

Treinamento para a morte


Na próxima vez que enfrentar alguma dificuldade, imagine que está mergulhando nas águas da morte. Qual será a sua reação frente a essa situação? Da perspectiva do momento da morte você se perderá em confusão e reação de fuga? Tentará evitar esse momento, tentará esconder-se? Se mostrará alerta e aceitará a situação?

Muitas tradições espirituais enfatizam o exercício da prática da imaginação da morte para colocar os eventos da vida numa outra perspectiva; todos nós nos deixamos levar por nossos pequenos dramas e historias. A lembrança da morte pode nos afastar desses jogos da mente e ampliar a nossa experiência. Ao mantermos essa conscientização podemos viver com maior espaço e facilidade.

Pensar na prática meditativa como uma experiência para a morte me inspira muito, sobretudo em momentos de dores emocionais e físicas. A nossa morte provavelmente será difícil. E ao meditarmos estamos, numa escala infinitamente menor, também numa situação difícil. Vemos quem somos e como podemos nos abrir. Esse é o nosso treinamento.

Depois de alguns minutos sentados nossa mente e nosso corpo começam a assinalar algum tipo de desconforto: formigamento nas pernas - por exemplo. Vemos então que é realmente necessário uma certa persistência para aceitarmos esses estados. Mas se formos teimosos conseguiremos ir adiante.

Há boas chances de que enfrentaremos ainda mais desconfortos quando morreremos. Provavelmente enfrentaremos dores no corpo e emoções difíceis de serem metrizáveis ao começarmos a nossa jornada rumo a esse mistério que é a morte. Como é que conseguiremos nos relacionar com tudo isso? Estaremos abertos, serenos, com medo, lutando para fugir do processo, haverá ansiedade ou mesmo terror?

Cada sessão de meditação - sentada ou caminhando - cada momento que praticamos é uma oportunidade para treinar a mente. Será que conseguimos nos abrir para tudo isso, aceitar tudo isso? E quanto mais nos aprofundarmos na prática, quanto mais nos aproximarmos dos limites, mais esses limites se expandirão. A morte pode ser um desses limites. Será que podemos nos treinar tão bem a ponto de atravessarmos esses limites com confiança quando chegar o momento?

Joseph Goldstein - Insight Meditation, The Practice of Freedom